Início Cultura CRÔNICA: A VOLTA – POR JOAQUIM D TOLEDO

CRÔNICA: A VOLTA – POR JOAQUIM D TOLEDO

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Estou na Artur de Azevedo… Para alguns pedaço de Pinheiros, para outros, já um pedaço da badalada Vila Madalena… Pra mim, a volta a um pedaço fantástico da minha vida… Um pedaço em que me possibilitou sonhar tudo o que eu podia e projetar tudo o que cabia numa mente terrivelmente  criativa… E, naquele momento, desde que desci na Estação Fradique Coutinho, uma emoção fortíssima me pegou de jeito, vê num instante, pensei que se eu tivesse um infarto, partiria dessa para outra, envolto em belas recordações… 

Não tive medo… E eu sempre achei que era comandado por este sentimento inóspito… Não era e nunca fui… E seguia em frente, caminhando firme de encontro a todas as lembranças que desejassem me invadir… Sentia claramente cada passo, sentia também, cada batida do coração, que aos poucos ia acelerando… Não me importei nenhum pouco se acaso ele explodisse… Como já disse, não senti medo e nem iria sentir, ao chegar na próxima quadra… Pensei mais uma vez, que se esse coração velho de guerra explodisse, ele o faria dentro de uma tremenda felicidade… Naquele momento, até a morte seria bem-vinda… De uma certa forma… Há!!!… Claro que eu queria viver intensamente, cada um daqueles momentos…  

O número era 1767… Lá encontraria um amigo de um determinado momento de minha vida, que não tinha sido a Vila Madalena, mas era um pedaço de dez anos de minha vida, em que estar num tipo de cativeiro, porque aquela cidade, nada mais foi pra mim, do que uma espécie de prisão… Mas, enquanto estava lá, não tinha essa consciência, mas aprendi a trabalhar a paciência e a não temer o perigo… Naquela cidade, o perigo estava em cada esquina e em muitos dos olhares…

Lá, eu não amei, e por incrível que pareça, não odiei… Também, por incrível que pareça, aprendi a entender uma certa pessoa, que a maioria fazia questão de não entender… Que aquela pessoa era, totalmente dúbia, isso era… O bem e o mal gritavam… O ódio, em certos momentos, parecia soltar de seus olhos… Mas que na verdade, não passava de um menino extremamente criativo… 

E, numa noite perdido naqueles dias, esse que eu visitaria, ganhou uma boa gorjeta de um cliente, e para ele, aquele dinheiro não era para poupar, era para curtir a vida… E este, ligou aquele, que me chamou e disse: se prepara, vamos virar a noite e toda bebida que pudermos… Não entendi, mas obedeci… Entendi que, um dinheiro vindo inesperadamente, entregue-o à vida… 

Ok… 

O carro foi abastecido, e já cada um em seu posto, nós olhamos, como que um confirmando para o outro, que estava tudo bem, e que poderíamos fazer aquela correria… Primeira parada, o bar de um amigo, que tinha todo tipo de cachaça e de batida vagabunda… Um gole disso, um gole daquilo… Um olhar para o outro, uma garota que se achegasse e que era automaticamente dispensada, porque aquela noite era nossa, só nossa… E o carro voava de um lado para o outro… Músicas dos anos setenta formavam a trilha sonora… Uma conveniência de um posto de gasolina, um outro “buteco”, outras tantas caras que tentaram se aproximar e que foram rechaçadas… E nós nos sentíamos grandes privilegiados… 

Até que o dia clareou e o dinheiro acabou… Sobraram risadas de satisfação… Por favor, não guarde um dinheiro que chega sem pedir licença… Gaste-o com toda vontade… Encha o tanque do carro duas vezes, uma antes e outra depois… Tudo tem que ser controlado, contabilizado… Ninguém pode sair perdendo… O prazer é o ponto principal… Numa travessia da noite desse tipo, não pode haver perdedor… Nem vencedor… Apenas o fato, apenas o desejo realizado… E, de repente, eu estava de frente com meu amigo… Estavam ali, naquele momento, dois dos sobreviventes… O outro se foi, exatamente, num momento em que seu coração não aguentou e explodiu… Nos abraçamos e sorrimos um para o outro… E ali eu reencontrava dois momentos fortíssimos de minha vida… E meu coração não explodiu… 

É isso… 

Grande abraço a todos… 

Joaquim D Toledo…

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