Início Opinião Editorial O lugar da mulher é onde ela quiser – Por Dalmo Viana

O lugar da mulher é onde ela quiser – Por Dalmo Viana

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E nós, homens, temos o dever de nos juntarmos na luta pelo empoderamento feminino

Uma mulher negra, de família humilde, tenta desvendar os segredos do Universo, estudando a luz que chega até a Terra. A cientista e professora da Universidade Federal do Paraná Rita de Cássia dos Anjos teve seu trabalho reconhecido com o prêmio “Para Mulheres na Ciência 2020”, uma iniciativa da Unesco Brasil, Academia Brasileira de Ciências e L’Oréal.

Patrícia Capel, administradora de empresas que já morou em seis países de três continentes diferentes, é vice-presidente da empresa Ambev e CEO da AB Inbev para o Chile, Bolívia e Uruguai. O cargo de CEO da Microsoft Brasil é ocupado desde 2015 pela angolana Paula Bellizia, formada em tecnologia da informação na Faculdade de Tecnologia (Fatec) e uma das principais referências femininas deste setor.

Esses são apenas três exemplos de sucesso para ilustrar a importância cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho. Mas há muito de desigualdade e de discriminação de gênero. Apenas 16% dos postos de alta gestão são ocupados por lideranças femininas. Um relatório do Fórum Econômico Mundial aponta que só chegaremos à igualdade de gêneros daqui a 75 anos. Isso, se continuarmos na evolução pelos direitos das mulheres e caso não haja retrocessos.

Esse cenário é uma pequena parte dos desafios a serem superados, que incluem preconceito interno, salário compatível com a função e reconhecimento profissional. A luta vem de décadas e precisamos nos engajar cada vez mais no processo de empoderamento feminino, definido pelas palavras igualdade, liberdade, sororidade e representatividade. Nós, homens, precisamos ser parceiros nessa construção, apoiando decisões de mulheres e sendo companheiros tanto no ambiente profissional quanto no pessoal.

Representatividade política

O estudo Mulheres na Política 2020, divulgado em março pela ONU, revela que o Brasil é destaque negativo na América Latina quando se fala em representatividade feminina. Ocupamos o penúltimo lugar, empatados com o Belize e à frente apenas do Haiti. Hoje, a bancada feminina corresponde a 15% do Congresso Nacional. E as mulheres são apenas 13,5% entres os vereadores e 12% entre os prefeitos eleitos em 2016.

As brasileiras conquistaram o direito ao voto no início da década de 1930, mas restrito a mulheres casadas autorizadas pelos maridos, ou solteiras com renda própria. O voto feminino só foi tornado obrigatório, como para os homens, no Código Eleitoral de 1946. A Lei das Eleições de 1997 estabeleceu cotas para as candidaturas em eleições proporcionais, reservando 30% das vagas para as mulheres. E, apenas em 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que os recursos de campanha destinados às candidaturas deveriam seguir essa mesma proporcionalidade.

A medida surtiu algum efeito. Mas as direções partidárias, formadas em sua maioria por homens, utilizam brechas na lei para concentrar o financiamento em concorrentes com maior viabilidade eleitoral. A baixa representatividade leva, na maioria das vezes, em menores investimentos e dificulta a luta pelos direitos das mulheres. O desequilíbrio entre homens e mulheres torna o ambiente político um terreno árido e pouco acessível para o gênero feminino, apesar dos exemplos reconhecidamente bem sucedidos em todo o mundo.

Um levantamento realizado pelo Center for Economic Policy Research e pelo World Economic Forum constatou que os países liderados por mulheres enfrentaram a pandemia do Covid-19 de forma mais eficiente. Nos 194 países pesquisados, a mortalidade média cai pela metade onde o comando está nas mãos de mulheres. E, muito provavelmente, o impacto mundial da doença seria menor, uma vez que somente 19 países estão sob a liderança feminina.

No último dia 26 de agosto, comemoramos o Dia Internacional da Igualdade Feminina, uma data criada para que lembremos da necessidade de mantermos a determinação de perseguir sempre uma melhor relação entre os gêneros. Encerro esse artigo com as palavras da ex-primeira dama de São Paulo, professora Lúcia França, companheira de longa data na luta por justiça social: “precisamos refletir juntos sobre as batalhas que travamos pelos nossos direitos civis, especialmente no que se refere ao direito de votar e à nossa representatividade na política brasileira”.

Sociólogo especialista em gestão pública passa a escrever semanalmente sobre temas da política nacional.

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