Início Artes CRÔNICA: SÁBADO DE MALHÁ JUDAS – POR JOAQUIM D TOLEDO

CRÔNICA: SÁBADO DE MALHÁ JUDAS – POR JOAQUIM D TOLEDO

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Hoje é sábado, pow… kkkkkkkk… E sábado de malhar Judas… Você já malhou Judas???… É bom demais… “Izopila” o fígado… Ou melhor, “izopila” a alma… 

Primeiro a gente pendura Judas num poste… Na verdade, primeiro a gente cria ele, a imagem e semelhança, de uma peste… Ou de uma praga… Dum cara de quem você tem muita raiva… Um bão exemplo, é um desses políticos safados… Então a gente pega um desses políticos fio suma égua qualquer, um desses que matam nóis tudo de raiva, muita raiva… Sabe cumé isso, né cumpadi???…

Pois bem… 

Mas o cumpadi vai me adesculpar, mode não sei explicar cumé qui se fais um bicho desse… Nunca fiz… No meu tempo, quem fazia o bicho, era o Roberto Sales, que tinha como irmão o Zé Luiz Sales… O cara era bão de fazê as coisas… Ele também fazia maranhão… Tem gente que chama aquele bicho de pipa… A molecada adorava aquele bicho… Era um tar de passar o dia inteirinho no campinho… Nas férias, claro… Até que a mãe e o pai apareciam e gritavam: pra casa, moleque, óia o dia se acabando e você aí nessa coisa… Passa pra casa, pra tomá banho e comê… 

Nossa, deu saudade agora, cumpadi!!!… Daqueles dois e de mais um punhado de gente… Meu primo Isaac, quem me deu o apelido de Tuchê… Há!!!… Num dia nóis tava fazendo um gol a gol, no corredor da casa da minha avó Anita, e eu meti uma bola no saco dele, que o bicho gritou e urrou… E ainda teve jeito de me xingar, assim meio que entre dentes… Sabe cumé essa coisa de entre dentes, cumpadi???… É quando a dor é tanta, que a gente morde os próprios dentes, e aí, se tivê que xingá, sai ali, no duro, no difícil, entre os dentes, porque eles tão ali, um no outro se apertando, porque a dor é tanta… Aí o bicho lascô: tuchê… 

Cumpadi, aquele nome ficou como que imprimida em mim, porque pegô de uma tar maneira, que eu respondo por ela inté hoje… E olha que já vou pra lá dos sessenta… Anos, cumpadi… Não me venha com imaginação disso e daquilo… Às veiz, eu paro na janela do meu quarto, e olho por ela, mais na verdade, olho é pra minha vida… Não praquela que tá ali, certinha, ajeitada, mas lá pra trás, naquele tempo da minha meninice, quando a brincadeira era livre e solta… 

E hoje, cumpadi, tão querendo botar prisão em todo mundo… Principalmente em nóis, os véios, que num tem mais tanta serventia… Tão dizendo por aí, e eu aqui da minha janela, fico só vendo e ouvindo e me “escunjurando”, porque escuto assim de oreiara, que querem botar todos os véios pra dormir, mas num é na cama, mas num túmulo… Dizem que tão botando inté gente viva, pra dormi de veis e coisa e tal… Cumpadi, num quero servir de coisa assim praquelas tranqueiras não, sô… 

Mais voltando pro Judas, que pode ser qualquer um na imagem e semelhança, de quem desagrade a nóis… Aí bota uma roupinha anssim anssim, meio desajeitada, porque o tarzinho num merece mais do que aquilo… Aí amarra o bicho no poste… Adepois a gente fala um montão pra ele… Fica nóis tudo ali na cara do fio suma égua, dizendo tudo que vem de raiva dele… Cumpadi, “izopila* o fígado… E a raiva é tanta, que deve “izopilar” o rim, o baco, o estômago, o intestino… Deve que “izopliá” é nóis tudinho, cumpadi…  Inté parece que nóis tá falando ali, direitinho na cara do tarzinho fio duma égua…

Aí, quando a raiva tá que não se aguenta mais, a gente arranca o tarzinho do poste, e sai arrastando o bicho pela rua… Cumpadi, esqueci de dizê, que cada um de nóis tá cum pedaço de pau, fazendo de porrete… Todo mundo armado… Aí, um arrasta o tarzinho pela rua, e aí é sempre o moleque mais malvado, porque ele fica vendo e rindo, e nóis tudo metendo o porrete no tarzinho… Logo que o tarzinho tá todo estrupiado… É só pedaço dele que se vê, esparramado pela rua… 

Mais é isso, cumpadi… Tempo bão, sô, qui num vorta mais não…

Um grande abraço, cumpadi…

Joaquim D Toledo…

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