sexta-feira, dezembro 13, 2024
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Vidas Negras Importam! Porque devemos debater a diversidade racial no Brasil

O assassinato de um negro americano por um policial branco desencadeou o movimento Black Lives Matter nos EUA e uma onda de protestos antirracistas que chegou ao Brasil. A indignação contra o preconceito racial chegou a parar, pela primeira vez na história, os jogos da NBA, após Jacob Blake ser baleado com sete tiros nas costas, enquanto seus três filhos aguardavam dentro do carro. Não só as estrelas do basquete, mas as grandes ligas e entidades das quais os principais esportes dependem, incluindo patrocinadores de peso, apoiaram o movimento.

Atletas do beisebol, futebol, futebol americano, basquete feminino, golfe, hóquei no gelo e tênis também adiaram jogos e torneios por pelo menos um dia. A NBA está de volta, mas com uma postura crítica, dando visibilidade à luta contra o racismo. Ídolos como LeBron James voltaram às quadras decididos a combater o preconceito racial em cada partida, uma atitude que vem de décadas. Agora, os jogos da NBA são realizados sob o lema Black Lives Matter.

No Brasil, os episódios de violência racial nos EUA também causaram indignação, como se a intolerância racial fosse uma chaga a ser combatida apenas nas fronteiras americanas. Diariamente assistimos em nossos noticiários histórias cruéis de ódio racial, mas o brasileiro insiste em acreditar na fantasia de que vivemos num país miscigenado e sem conflitos de raça. Está na hora de assumirmos que somos racistas sim, tanto como indivíduos, quanto como sociedade. Se a gente não reconhece o problema, ele passa a não existir e nenhuma medida é implantada.

O racismo não acontece apenas em situações pontuais, como ao impedir a entrada de uma pessoa negra no elevador social, num clube, revistá-la dentro de uma loja ou agredi-la com insultos e gestos. O negro no Brasil é mais pobre do que o branco, estudou menos e por isso ocupa funções mais operacionais e ganham menos. Além disso, o negro brasileiro dificilmente vai chegar a postos de comando e alcançar ascensão social e econômica. Maior vítima da violência urbana, tem mais chances de parar numa prisão ou morrer mais jovem.

Casa Grande e Senzala

Durante quase quatro séculos de escravidão, a sociedade brasileira foi consolidando um modelo racista, em que a cor da pele definia o lugar de subordinação de cada pessoa. O Brasil foi o último país da América a abolir a escravidão.

E a Lei Áurea, assinada em 1888, não ofereceu instrumentos para que os negros deixassem as senzalas para viverem com o mínimo de dignidade. A mão de obra utilizada nas plantações de café e nas primeiras indústrias foi de imigrantes vindos da Europa e da Ásia.

A história comprova o que os estudiosos da questão racial afirmam: no Brasil, temos um modelo de sociedade em que o racismo é estrutural, ou seja, as relações políticas, econômicas e sociais foram construídas em cima dessa base. Por isso, é tão comum achar normal que brancos ocupem a casa grande e aos negros fiquem reservadas as senzalas.

A filósofa e escritora Djamila Ribeiro, autora do Pequeno Manual Antirracista, afirma que não basta só reconhecer o privilégio branco, é preciso apoiar projetos que contribuam para a melhoria de vida das populações negras. Dar voz e espaço a intelectuais, pensadores e artistas negros.

Movimento AR

No final do mês de junho, a Universidade Zumbi dos Palmares e a Afrobras lançaram o manifesto “Vidas negras importam: nós queremos respirar”, um documento que relaciona dez ações estratégicas que visam inserir os negros em projetos de educação e de geração de renda, através de parcerias com a iniciativa privada e implantação de políticas públicas voltadas de combate ao racismo.

O Movimento AR, cujo nome remete ao caso do americano negro morto por asfixia, deseja mobilizar personalidade do meio jurídico, político, empresarial, artístico, esportivo e da comunicação para um debate nacional sobre diversidade racial e as melhores práticas para superarmos tanta desigualdade.

O manifesto do Movimento AR (http://www.movimentoar.com.br/) reitera que  ”o ódio racial envenena o ar a nossa volta e intoxica, sufoca e asfixia cada um de nós e toda a nação. O preconceito e a discriminação racial mata inocentes, destrói sonhos e interdita possibilidade. Mantém negros e brancos separados e desiguais”.

Precisamos estar juntos não só em manifestações convocadas em decorrência de casos de extrema violência, mas apoiar e participar dos vários movimentos de resistência, de lutas políticas e de afirmação cultural. É muito importante refletirmos sobre o que acontece aqui, na nossa realidade, para amadurecermos a consciência da dívida histórica que este país tem com seus filhos negros.

Sociólogo especialista em gestão pública passa a escrever semanalmente sobre temas da política nacional.

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