sexta-feira, novembro 15, 2024
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Um vírus que vitima pessoas e velhas ideias. É hora de falarmos sobre sustentabilidade.

Nesse momento que enfrentamos uma pandemia responsável por mudanças abruptas e sem precedentes, ouvimos uma frase que já virou lugar comum: “fique calmo, tudo vai passar e voltaremos ao normal”. Eu acredito nisso. E acredito também que nesse novo normal não haverá espaço para uma economia sem compromisso social, que aprofunde as desigualdades, que coloque em risco a saúde dos trabalhadores e nosso patrimônio ambiental.

Não sou otimista o suficiente para apostar numa melhora natural da humanidade e das empresas por causa do sofrimento imposto pelo Covid-19. Mas estou convicto de que o nosso novo normal vai implicar em uma postura diferente em relação a valores como desenvolvimento sustentável e consumo consciente em todas as indústrias. Sem isso, a luta pela sobrevivência será bastante penosa.

Estudo recente divulgado pela Universidade de Harvard relaciona níveis mais altos de poluição do ar a taxas mais elevadas de mortalidade pelo novo coronavírus. Além disso, todos nós sentimos os benefícios ambientais resultantes da diminuição do tráfego aéreo e do transporte rodoviário. Isso prova que a nossa saúde está diretamente ligada à saúde do planeta.

Portanto, temos a oportunidade única de reconstruirmos nossa sociedade pós-pandemia com base em novos parâmetros, deixando para trás ideias ultrapassadas e comprovadamente prejudiciais.

E temos motivos para acreditar numa nova safra de líderes empresariais, que assumiu o protagonismo durante a crise com medidas que geraram confiança. Vimos o surgimento de uma rede de solidariedade e recursos volumosos sendo doados para combate à fome, compra de equipamentos e construção de hospitais de campanha.

Em nosso novo normal, o foco deverá ser a solução de problemas e não a mera adaptação a eles. Ao invés de alargar ruas e avenidas, impor rodízios ou obrigar o uso de transporte público de péssima qualidade, o certo é intensificar o trabalho em home office e o uso do delivery.

E para evitar desperdício de insumos, a aposta correta está na economia circular. Esse modelo reaproveita o que até então era descartado pela cadeia produtiva, reduzindo os impactos ambientais. Estamos falando de trilhões de dólares para a economia mundial nos próximos anos.

O Brasil não pode perder a oportunidade

Especialistas afirmam que a reconstrução da economia mundial vai priorizar empresas e setores que apresentam comportamento efetivamente sustentável.Apenas a União Europeia pretende investir US$ 250 bilhões em iniciativas da chamada economia verde. Valores que devem subir substancialmente com o aporte de recursos de cada país europeu individualmente e de outras potências como Estados Unidos, China e Índia.

E o Brasil está se preparando para essa nova realidade? Infelizmente, desde o início do atual governo, a área ambiental tem sofrido com o aumento expressivo do desmatamento e da violência no campo. A imagem do país está se deteriorando internacionalmente e piorou ainda mais após a divulgação da reunião ministerial de 22 de abril, em que o Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, assumiu a intenção de “passar a boiada” durante a pandemia, o que significa simplificar as normas ambientais por decreto.

A reação foi imediata. Um fundo formado por cerca de 30 fundos de investimentos, que movimenta mais de US$ 3,5 trilhões, exigiu que o governo federal freie o crescente desmatamento no País. A política ambiental de Salles já é considerada um empecilho para a assinatura de acordos comerciais e, também, para o recebimento de investimentos externos. Até mesmo auxiliares do presidente e parlamentares da base defendem a substituição do ministro, que é alvo de um pedido de impeachment feito por deputados.

A realidade nacional está muito distante da nossa capacidade de atuação. Mas a pandemia docoronavírus nos provou, mais uma vez, que os municípios devem exercer seu papel fundamental na implantação de políticas públicas. É aqui, no município, que vivemos e onde as coisas realmente acontecem. Depois que o Supremo Tribunal Federal reafirmou a autonomia de estados e municípios para atuar no enfrentamento da Covid-19, nossa responsabilidade também aumentou.

O período eleitoral está chegando. Nós, como cidadãos interessados e comprometidos com a sustentabilidade, temos que avaliar o que tem sido feito e as promessas de ocasião. Os governos locais podem interferir muito na qualidade da produção e do consumo, comprando preferencialmente daqueles que seguem critérios sustentáveis. Precisamos de câmaras de vereadores que aperfeiçoem os planos-diretores de acordo com esse novo normal. Essa consciência da importância da economia verde precisa estar contemplada na legislação.

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