Uma realidade que insiste em mudar constantemente.
A Organização das Nações Unidas (ONU) já considera a pandemia do Covid-19 o maior desafio enfrentado pelo planeta desde a Segunda Guerra Mundial. Não sabemos quando tudo isso irá terminar, mas arrisco a dizer que vai demandar tempo. E nessa crise velhos hábitos deixam de fazer sentido e muita coisa tem se transformado. Chegamos, finalmente, ao século 21, onde a incerteza abre espaço para buscarmos novas soluções, outras saídas, novos modelos, recursos e comportamentos.
Mas, pela primeira vez, temos a oportunidade de enfrentar uma realidade de crise coletiva vivenciando uma verdadeira revolução tecnológica. Muitas soluções digitais contribuíram decisivamente para garantir uma certa normalidade em nosso cotidiano caótico. Empresas continuaram funcionando com o trabalho remoto, pudemos manter nossas interações sociais utilizando smartphones, aplicativos de mensagens e de vídeo, “descobrimos” as lives e o poder público tem conseguido ofertar serviços à população mesmo em um contexto de distanciamento social.
A transformação digital, que antes parecia filme de ficção científica, chegou para ficar. Cabe a nós, sociedade civil, empresas e governos aproveitarmos os benefícios da tecnologia e fazermos com que esses resultados positivos cheguem a todos. A título de ilustração, a cervejaria belga AB InBev (proprietária da Budweiser) implementou um algoritmo de Inteligência Artificial para detectar possíveis problemas de filtragem na fabricação da cerveja. Esse exemplo comprova que inteligências artificiais não são voltadas apenas para áreas muito tecnológicas, mas começam a estar presentes em diferentes setores da economia.
O Linkedin aponta um crescimento de 14% na contratação de profissionais especializados em Inteligência Artificial antes da pandemia. Outro movimento a destacar está relacionado ao TensorFlow, uma estrutura de software da Google para criação de programas de IA. Ele já foi baixado 100 milhões de vezes desde seu lançamento, em 2015. Apenas no mês de maio deste ano, foram 10 milhões de downloads. A quarentena intensificou o interesse das empresas em investir em tecnologia de inteligência, um caminho sem volta.
Mudanças no trabalho, nas cidades e no setor público
Com as limitações impostas pela pandemia, as empresas descobriram as vantagens proporcionadas pelo home office e essa é a grande transformação que está acontecendo no mundo do trabalho. Graças à tecnologia da informação e à internet, as distâncias dos centros de decisão nos negócios deixaram de ser relevantes para a produtividade de grande número de profissionais.
Essa mudança tem o potencial de impactar o consumo, o mercado imobiliário e a mobilidade urbana. Bairros sem uma boa cobertura de banda larga vão sofrer com a desvalorização. E nós já podemos sonhar com a cidade do futuro, sem grandes engarrafamentos a caminho do trabalho ou na volta para casa. Os deslocamentos dentro das grandes cidades serão motivados mais para o lazer.
O setor público não ficou indiferente ao digital. O Congresso Nacional implantou o Sistema de Deliberação Remota (SDR), uma ferramenta que permite que os parlamentares votem matérias de forma online. As sessões do Supremo Tribunal Federal passaram a ser realizadas por videoconferência transmitida na TV Justiça e no canal do STF no YouTube. Estados e municípios estão realizando diversas experiências digitais, na educação, na saúde e na telemedicina.
Precisamos estar atentos para cobrar das autoridades que formulam nossas políticas públicas a democratização do uso dessa tecnologia. Não podemos deixar que se crie outro abismo entre grandes e pequenos negócios, em que as inovações fiquem restritas a um pequeno número de privilegiados. Temos que nos organizar para exigir que as soluções tecnológicas possam ser implementadas em larga escala, gerando benefícios para agentes públicos e para a população.
Dalmo Viana.
