O Tarô pode ser terapêutico porque é uma ferramenta de diálogo entre o mundo interior e exterior, formando uma espécie de ponte entre eles por meio de imagens ricas em símbolos. É por isso, que ele nos permite ampliar a percepção nas mais diversas áreas da nossa vida.
A linguagem simbólica conversa com a nossa imaginação, abre caminho para a criatividade se fazer presente.
Na abordagem terapêutica do tarô entendemos que ele representa um mapa da jornada que faz o herói. Sendo assim, o personagem da carta número zero, O Louco, está em sua rota para a transformação pessoal.
Se dividirmos essa jornada em três etapas, a carta do pendurado está na etapa do meio, a qual está mais relacionada com a realidade imediata do viver, ou seja, o mundo exterior. É nessa fase que o herói sai efetivamente de seu território familiar em busca de respostas.
Contudo, é importante entender que essa jornada é cíclica. Então, não há claramente um começo ou fim, pois as cartas relatam situações que todos nós já passamos e vamos passar em algum momento, seja nas pequenas questões do cotidiano, ou nos grandes acontecimentos da vida.
Mais ou menos nesse meio do caminho está a carta do pendurado, ela pode nos trazer alguns insights de autoconhecimento se olharmos com atenção e liberdade, deixando a imaginação fluir. Aliás, é assim que se deve olhar para uma carta do tarô, de maneira que possam surgir associações mentais que nos levem pelas trilhas do nosso mundo interior.
A mágica das cartas está justamente em seu poder de conversar com todos e possibilitar diferentes associações em cada pessoa.
Na carta do pendurado encontramos o personagem suspenso pelas pernas, de ponta cabeça. Ele está com uma expressão serena, tranquila, mas ao mesmo tempo há uma certa solidão, pois está ali somente com ele mesmo, imobilizado e invertido. Podemos ver que há também uma alusão à iluminação, e essa aura iluminada em volta de sua cabeça pode nos dizer que ver as coisas por outra perspectiva pode nos trazer grande sabedoria.
A carta do pendurado, também chamada de O enforcado de número 12, se encontra antes da temida carta 13, a carta da morte, e depois da carta da justiça (11), em outros baralhos ele vem depois da carta A Força (8), o que remete a se deparar com as forças instintivas, ou seja, aquilo que não se tem um claro controle. Essa mudança de perspectiva parece ser imperativa, por isso temos ditados populares que corroboram como “depois da tempestade vem a bonança”.
Mesmo com as pernas para o ar, o elemento mais característico da carta é a terra, que nos traz a ideia de que se precisa passar por esse processo material, físico, corporal, como um sentir na pele.
O pendurado está suspenso em uma posição não letal, mas sim incômoda, que exige resistência. Quem já não foi visitado por esse sentimento de suspensão no tempo (que para muitas pessoas aconteceu na quarentena), como se estivéssemos em um eterno domingo, olhando diretamente para as incertezas do mundo, entre a possibilidade de um renascimento ou da morte, entre o novo e o velho?
É natural que situações mudem drasticamente, e essa pandemia trouxe muitos novos olhares sobre aspectos de nossos comportamentos enquanto sociedade, invertendo certezas e colocando em cheque aquilo que acreditávamos ser indestrutível. O que aparentemente estava sob controle, agora não está.
Apesar de ainda não haver qualquer certeza sobre a origem desse vírus, diz a lenda que ele veio do morcego, animal que contém os mais perigosos vírus para os seres humanos. O habitat do morcego é o interior da caverna e a escuridão, são animais que provocam muito medo, mas que também vêem o mundo de ponta cabeça.
Assim como o pendurado, somos forçados por este vírus a nos recolhermos e mudarmos a nossa perspectiva, re-avaliarmos condutas e comportamentos. Agora devemos ter a paciência para enfrentar a crise com a sabedoria da espera.
E, você? Olhando para esta carta, o que vê? Que novas sabedorias e conhecimentos você terá ao ver o mundo sob essa nova perspectiva?
Ana Carolina Pinheiro
Psicoterapeuta no Tear do Self