Às vezes sentimos que o sol se apagou dentro de nós, a vida se tornou opaca e vazia de
significado. Fazemos as coisas que têm que ser feitas e já não lembramos o porquê.
Escolhi a carta O Sol, pois este é o mês das crianças e pode ser um bom momento para
pensar em como tratamos a criança que um dia fomos e ainda habita dentro de nós.
A carta de número 19 (1+9=10) traz a primeira reflexão já na sua posição no baralho, que é
composto por 22 arcanos maiores, sendo a carta 21 a última delas, ou seja, a carta O Sol está bem no final dessa jornada, um pouco antes da carta 20 que traz uma mudança total de energia.
Assim, essa carta é uma etapa fundamental em nosso processo para que possamos
prosseguir. Afinal, não há renovação de energia sem o contato com essa criança interior.
Esteja ela ferida, abandonada, esquecida, ou até mesmo presente.
A soma do 19 resulta no número 10. Na soma do número 10 (1+0=1) podemos imaginar que o 1 e 10 são quase a mesma coisa, mas há uma diferença.
O 1 é a semente que contém todo potencial, é o início, já o 10 é a completude transcendental, ele contém o zero, e remete aos finais de ciclos.
O filósofo Nietzsche contou certa vez sobre os três estágios do espírito: o camelo, o leão e a criança.
No estágio do camelo, ele é a submissão, curva-se e se enche de carga. E, quando está
carregado, o camelo vai ao deserto e se transforma no leão que tem vontades e desejos.
Então, ele encontra um dragão cheio de escamas e nelas estão todas as convenções, desde
os mais velhos tempos até os atuais.
Cada escama tem uma lei que vem depois da expressão “tu deves”. O leão enfrentará o
dragão, e quando este estiver morto, se tornará uma criança.
A criança da carta parece vitoriosa, como se tivesse matado o dragão, carregando uma
bandeira laranja que representa o fogo, a atividade e a ação. O muro que a cerca é a proteção e segurança, assim como ingenuidade, negação e inocência.
Isso nos alerta para o aspecto inverso da carta: a criança é uma parte e não a totalidade da
nossa personalidade. Se ficarmos por demais identificados com ela, cairemos em suas
armadilhas.
Se observarmos a carta, veremos como o sol é grande e ocupa metade do espaço, pois esse é um símbolo da vida, crescimento e criatividade. Os girassóis buscam e se alimentam dessa energia vital fornecida pelo sol, por isso, representam também o otimismo.
E quando encontramos esse sol que brilha dentro de nós, a espontaneidade faz com que a vida seja mais verdadeira. Tomamos rumos que estão mais de acordo com a nossa essência, aprendemos a ser e a deixar ser, estarmos abertos e receptivos.
Devemos portanto, permitir que uma parte em nós também se divirta, improvise, sonhe,
fantasie, seja curioso, criativo e busque o que quer. Devemos levar a vida sentindo, não
apenas pensando, pois viver não é apenas alguma coisa, é uma multiplicidade.