Por Dalmo Viana
O Brasil avança rápido em direção ao atraso. No final do ano, completaremos mais uma década perdida. Será o quarto ciclo consecutivo com crescimento pífio, em média 2,1% ao ano. Na última década, o número de favelas dobrou e uma de cada 4 casas na cidade de São Paulo está situada nesse tipo de aglomerado urbano.
Nosso país produziu, nos últimos 40 anos, pobreza e desigualdade social. O desempenho nas provas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa, na sigla em inglês) coloca nossos estudantes entre os 10 últimos colocados na prova de matemática.
O Pisa é uma avaliação mundial feita pela OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, em dezenas de países, com a aplicação de provas de leitura, matemática e ciência, além de educação financeira. A primeira edição foi realizada em 2000 e o resultado é divulgado a cada três anos. O mais recente é o de 2018, que avaliou 600 mil estudantes de 15 anos de 80 países diferentes.
Saímos da 37ª posição geral no ano 2000, para a 57ª em 2018, com uma média muito abaixo das notas recebidas pelos alunos dos países desenvolvidos e dos países da OCDE, considerados referência na área da educação. Os resultados não são nada animadores e é preciso que encaremos o desafio de buscar não só a universalização, mas a excelência no ensino.
Ministério da Educação não aponta caminhos
No momento em que escrevo este artigo, o Ministério da Educação está sem seu titular, que saiu praticamente fugido do país para assumir um cargo no Banco Mundial, nos Estados Unidos. O ex-Ministro Abraham Weintraub ficou longos e tumultuados 14 meses à frente do MEC. Polêmico e ideológico, suas postagens nas redes sociais revelaram “impressionantes” erros de ortografia, que chamaram mais atenção do que o conteúdo.
Apesar do lançamento de programas como o Conta pra mim, para combater o analfabetismo, e a expansão das escolas cívico-militares, a maioria dos projetos anunciado pelo então ministro não foi implementada ou sofreu alterações. O governo não conseguiu a aprovação do Congresso Nacional para o ID Estudantil – carteirinha estudantil digital e gratuita, o Enem Digital foi adiado e o Future-se (projeto de financiamento privado nas universidades federais) foi completamente modificado pelo Legislativo.
Representantes de entidades educacionais afirmam que seu legado, na verdade, é o de ruptura de diálogo do governo federal com professores, estudantes, redes de ensino e universidades.
A educação pós pandemia
Os especialistas e profissionais da educação afirmam que a escola não será mais a mesma depois dessa crise. Professores, pais e alunos precisaram se reinventar e estão descobrindo as possibilidades infinitas da tecnologia aliada a criatividade. Interatividade, metodologias ativas e atrativas serão ferramentas indispensáveis para despertar e manter o interesse dos educandos.
A realidade constrangedora de extrema desigualdade entre os estudantes, principalmente em relação aqueles que vivem nas periferias e sofrem com as dificuldades de acompanhar as aulas pela internet, exige uma discussão profunda sobre políticas públicas para o setor. Precisamos equalizar a aprendizagem e garantir oportunidades iguais na retomada das aulas.
A aproximação entre pais e alunos nas tarefas escolares neste período de isolamento vai contribuir para o reconhecimento da função social do professor. E essa valorização, com certeza, será importante para melhorar o relacionamento entre a família e a escola e reforçar o interesse pela educação.
E essa nova escola terá que repensar seu papel na comunidade, tendo sempre em tela o artigo 216 da Constituição, que trata do patrimônio cultural material e imaterial de nossa nação. Isso significa compartilhar os saberes, a identidade e a memória de cada núcleo familiar, construindo um legado para as futuras gerações.