quarta-feira, setembro 18, 2024
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CRÔNICA: UMA SOGRA EMOCIONADA – POR JOAQUIM D TOLEDO

É engraçado como certos fatos ficam grudados em nossa memória… Me acostumei com a ideia de sermos exatamente como um computador… Na mente podemos encontrar a caixa de memória, onde ficam armazenadas todas as informações… E neste processo, não existe a necessidade de se limpar, nossa capacidade de armazenamento é infinita… 

Por um tempo, eu gerenciei um pequeno cinema, que levava o nome de uma de minhas “ídalas”: Lilian Lemertz… Não a conheci pessoalmente, mas tinha uma grande admiração por ela…

Era uma sala pequena, nela cabiam umas 250 pessoas… Naquela sala, trabalhávamos em dois, eu e o Dailton, que era quem projetava as películas… Como de costume, durante a semana, o movimento era mais intenso à noite… Nas tardes, às vezes até que funcionava bem, mas geralmente, era devagar… Dependia do filme em cartaz…

Numa tarde, já durante a primeira sessão, o telefone tocou… Atendi e do outro lado da linha, uma voz de mulher me perguntava se o movimento estava grande… Eu respondi que não, que ela poderia vir tranquila para a segunda sessão… Ela comentou que morava perto, e que queria dar uma caminhada, aliviar a tensão, e que por isso já ia se colocar a caminho… 

A senhora chegou rapidamente… Ela comprou o ingresso, entrou, pediu uma pipoca e se acomodou na sala de espera… Eu pensei em deixá-la à vontade, mas ela começou a falar que estava muito triste, e disse que a filha também estava muito triste, porque perderá seu marido há pouco tempo… 

Percebendo que a senhora queria desabafar, e como ainda era cedo para um movimento maior, fiquei ali com aquela senhora, que me contou que tinha uma grande admiração pelo genro, e o descreveu como um grande ser humano… E que, às vezes, a saudade batia tão forte, que era preciso andar um pouco, pra sair da loucura, por isso que ela tinha ido ao cinema… 

Senti aquela senhora, realmente, machucada com a partida do genro… Imaginei a filha tendo que tocar a vida sem o seu companheiro, que pela descrição da senhora, era um verdadeiro cavalheiro com as duas… E, para minha surpresa, ela disse que eu conhecia o seu genro, pelo menos de nome… 

Curioso, eu perguntei quem era o genro que eu poderia conhecer, pelo menos de nome… A senhora respondeu com brilho nos olhos… Era uma mistura de lágrimas e admiração: Wander Taffo da banda Rádio Táxi… Eu, imediatamente, levei um baque, porque eu não sabia da morte daquele músico… Por onde eu andava???!!!… O que fazia???!!!… Levei um tempo para absorver aquela informação… A senhora ficou imensamente surpresa por eu não saber sobre o fato…

Na verdade, estive fora de São Paulo, por um ano… Estava lá pras bandas do norte, e tinha acabado de entender, que estive fora de toda uma realidade pelo tempo em que passei por lá… Naquele momento, já dentro de um processo emocional, raspando ao daquela senhora, ficamos ali conversando… Mas eu sabia que tinha que me segurar, porque a senhora estava fragilizada e queria desabafar… E assim fomos nós, até que as primeiras pessoas, que queriam entrar para a sessão das quatro, apareceram na bilheteria… 

É isso…

Grande abraço a todos… 


Quem conversa com ele 10 minutos não sai sem aprender algo além de ter dado muitas e boas gargalhadas.

Joaquim Brandão 

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